No mundo contemporâneo, o ambiente de trabalho está cada vez mais complexo. Além dos desafios físicos e técnicos, os colaboradores enfrentam uma série de riscos psicossociais que podem afetar significativamente sua saúde mental e produtividade.
Riscos como estresse crônico, assédio moral e sobrecarga de trabalho são apenas alguns dos fatores que podem transformar um local de trabalho em um ambiente desgastante.
Questões de saúde mental afetam diretamente a performance e produtividade das empresas. Segundo o g1, em 2024, o Brasil teve 472 mil afastamentos por esse motivo, 68% a mais que no ano anterior.
Recentemente, a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) trouxe novas diretrizes para a gestão desses riscos, destacando a importância de identificar, avaliar e mitigar os fatores psicossociais no ambiente laboral.
Neste artigo, vamos explorar o que são riscos psicossociais, como eles afetam as empresas e os funcionários, e quais estratégias podem ser adotadas para promover um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo. Confira:
Segundo as Normas Regulamentadoras brasileiras, especialmente a NR-1, riscos ocupacionais são definidos como:
Riscos ocupacionais são uma combinação de fatores, condições, objetos, eventos ou ações presentes no ambiente de trabalho que, em conjunto, aumentam a probabilidade de ocorrência de lesões ou agravos à saúde dos trabalhadores.
Esses riscos podem decorrer da exposição a agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos, de acidentes e também psicossociais relacionados ao trabalho.
A NR-1 estabelece que o gerenciamento de riscos ocupacionais deve incluir a identificação, avaliação, classificação e controle desses riscos, considerando a severidade dos possíveis danos e a probabilidade de ocorrência, para implementar medidas preventivas adequadas.
Os riscos psicossociais são fatores relacionados à organização, gestão e dinâmica do trabalho que podem impactar negativamente a saúde física e mental dos colaboradores. Esses riscos incluem situações como:
Esses fatores podem levar ao estresse ocupacional, burnout e outros problemas psicofisiológicos, como doenças cardiovasculares, transtornos mentais (ansiedade e depressão) e até alterações comportamentais.
Os riscos psicossociais impactam diretamente o desempenho e a sustentabilidade das organizações. Alguns motivos a seguir ajudam a entender a importância desses riscos:
Impacto na saúde dos trabalhadores
A exposição prolongada a riscos psicossociais pode desencadear estresse crônico, ansiedade, depressão, burnout, insônia e até doenças físicas, como problemas cardiovasculares e musculoesqueléticos.
Aumento do absenteísmo e presenteísmo
Trabalhadores afetados tendem a faltar mais ao trabalho ou comparecer sem condições de desempenhar suas funções de forma eficaz, o que reduz a produtividade e aumenta os custos para a empresa.
Rotatividade e dificuldade de retenção de talentos
Ambientes marcados por riscos psicossociais apresentam maior rotatividade de funcionários, dificultando a retenção de talentos e elevando custos com recrutamento e treinamento.
Queda no desempenho organizacional
Empresas que ignoram esses riscos enfrentam queda no desempenho geral, aumento de acidentes, afastamentos prolongados e até ações trabalhistas, além de prejuízos à imagem e reputação.
Custos financeiros e sociais elevados
Os custos associados aos riscos psicossociais são significativos tanto para as empresas quanto para a sociedade, devido ao aumento de afastamentos, tratamentos médicos e aposentadorias precoces
Para identificar os riscos psicossociais é importante balancear o uso de métodos quantitativos e qualitativos. Os quantitativos ajudarão a entender o tamanho dos riscos, os departamentos onde são mais críticos, entre outros.
Já os métodos qualitativos irão permitir que a empresa entenda as implicações dos riscos, os efeitos no dia a dia dos trabalhadores e no funcionamento da organização como um todo. Portanto, são análises que se complementam.
Abaixo, listamos seis métodos que você pode considerar para utilizar na sua empresa. Quando sugerimos que você considere, é porque o método precisa se encaixar no contexto da sua empresa. Então antes de mais nada, entenda seus recursos, tamanho, subdivisões, dificuldades, e só então, decida quais são os métodos mais aplicáveis. Veja:
Entrevistas e feedbacks: Realizar entrevistas individuais ou em grupo e coletar feedbacks regulares ajudam a identificar elementos estressores e situações de conflito não evidentes em pesquisas quantitativas.
Observação direta: Observar o ambiente de trabalho e as interações entre equipes pode revelar sinais de estresse, isolamento, conflitos interpessoais e mudanças de comportamento.
Avaliação psicossocial especializada: Ferramentas como o Inventário Psicossocial avaliam dimensões como exigências emocionais, relações interpessoais e condições de trabalho, proporcionando um diagnóstico detalhado dos riscos presentes.
Monitoramento de indicadores: Acompanhar dados como absenteísmo, rotatividade, produtividade e afastamentos por questões de saúde mental pode indicar a presença de riscos psicossociais relevantes.
Uma vez que os riscos estejam bem identificados, é hora de criar bons planos para gerenciá-los de forma eficaz e abrangente.
Isso envolve a elaboração de estratégias detalhadas que considerem as especificidades de cada risco identificado, bem como a implementação de medidas preventivas e corretivas que possam mitigar seus impactos.
É essencial desenvolver um plano de ação que inclua a definição de responsabilidades claras, a alocação de recursos adequados e a criação de um cronograma para a execução das ações propostas.
Além disso, é importante estabelecer mecanismos de monitoramento e avaliação contínua para garantir que as medidas adotadas sejam eficazes e possam ser ajustadas conforme necessário.
A comunicação aberta e o envolvimento de todos os níveis da organização são fundamentais para o sucesso do gerenciamento dos riscos psicossociais. Líderes da empresa precisam estar envolvidos e comprometidos com o processo.
Além disso, a nova redação da NR-1 prevê ainda mais multidisciplinaridade para lidar com esses riscos. Com o envolvimento de diferentes expertises, que podem inclusive ser externas, por meio de fornecedores, será possível promover um ambiente de trabalho mais seguro e saudável para todos os colaboradores.
Comunicação aberta e canais de escuta ativa: Reconheça os riscos existentes e promova uma comunicação aberta e segura, ouvindo os colaboradores para entender a raiz e o impacto dos pontos identificados.
Programas de apoio psicológico: Disponibilize programas de apoio psicológico, como aconselhamento e escuta qualificada, para oferecer suporte imediato aos trabalhadores afetados.
Campanhas de conscientização sobre saúde mental: Implemente ações que promovam saúde mental, como campanhas educativas, incentivo à prática de atividades físicas, alimentação saudável e qualidade do sono.
Treinamento de lideranças: Capacite gestores para atuarem com empatia e sensibilidade, prevenindo situações de assédio e promovendo um ambiente de apoio e valorização.
Políticas claras e códigos de conduta: Estabeleça normas que especifiquem comportamentos aceitáveis e práticas inadequadas, prevenindo conflitos e assédio.
Gestão equilibrada da carga de trabalho: Adapte condições de trabalho, distribua tarefas de forma equilibrada e promova a autonomia, sempre buscando eliminar ou minimizar os fatores de risco na fonte.
Flexibilização da jornada e trabalho híbrido: Práticas que tendem a melhorar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e, por consequência, tendem a atrair talentos, reduzir absenteísmo e aumentar satisfação, além de mitigar diretamente riscos como estresse e sobrecarga.
Avaliação contínua do clima organizacional: É crucial para manter um ambiente de trabalho saudável. Envolve pesquisas regulares para detectar problemas precocemente e ajustar estratégias de gestão.
Monitoramento e revisão contínua: Avalie periodicamente a eficácia das medidas implementadas e ajuste as estratégias conforme necessário, integrando o gerenciamento de riscos psicossociais ao Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).
A mudança mais significativas na NR-1 em relação à gestão de riscos psicossociais consiste na inclusão explícita desses riscos dentro do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).
Isso tornou obrigatória a identificação, avaliação, registro e controle de fatores como estresse ocupacional crônico, síndrome de burnout, assédio moral e sexual, carga mental excessiva, isolamento e hiperconectividade no ambiente de trabalho.
Essa atualização amplia o escopo do PGR, que passa a englobar os riscos psicossociais com o mesmo rigor aplicado aos riscos físicos, químicos e biológicos, exigindo das empresas planos de ação efetivos para prevenção e mitigação desses fatores.
Além disso, a NR-1 reforça a interligação entre o PGR e a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (LDRT), incluindo transtornos mentais como depressão, ansiedade e burnout, o que implica maior responsabilidade das empresas na gestão da saúde mental e emocional dos trabalhadores.
Essas mudanças representam um avanço importante na legislação brasileira, alinhando-a com as melhores práticas internacionais e reconhecendo a saúde mental como componente essencial da segurança e saúde no trabalho.
No entanto, a implementação traz desafios, como a necessidade de adaptação cultural, capacitação, investimento em recursos e integração entre áreas da empresa.
Vale destacar que, embora a autuações relativas à norma tenham sido adiadas para 2026, o ideal é que as empresas se preparem desde já para cumprir essas exigências, que visam reduzir o adoecimento mental, aumentar a produtividade e promover ambientes de trabalho mais equilibrados e sustentáveis.