Normativas ocupacionais

O que são riscos psicossociais e como se adaptar à NR1?

Aprenda como identificar, avaliar e mitigar riscos psicossociais como estresse, assédio e sobrecarga no ambiente de trabalho, nos novos termos da NR-1.


No mundo contemporâneo, o ambiente de trabalho está cada vez mais complexo. Além dos desafios físicos e técnicos, os colaboradores enfrentam uma série de riscos psicossociais que podem afetar significativamente sua saúde mental e produtividade.

Riscos como estresse crônico, assédio moral e sobrecarga de trabalho são apenas alguns dos fatores que podem transformar um local de trabalho em um ambiente desgastante.

Questões de saúde mental afetam diretamente a performance e produtividade das empresas. Segundo o g1, em 2024, o Brasil teve 472 mil afastamentos por esse motivo, 68% a mais que no ano anterior.

Recentemente, a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) trouxe novas diretrizes para a gestão desses riscos, destacando a importância de identificar, avaliar e mitigar os fatores psicossociais no ambiente laboral.

Neste artigo, vamos explorar o que são riscos psicossociais, como eles afetam as empresas e os funcionários, e quais estratégias podem ser adotadas para promover um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo. Confira:

    1. O que são riscos ocupacionais?
    2. O que são riscos psicossociais?
    3. Por que os riscos psicossociais são relevantes?
    4. Como identificar os riscos psicossociais?
    5. Como gerenciar os riscos psicossociais?
    6. Quais são as mudanças mais significativas na NR-1 em relação à gestão de riscos psicossociais?

1. O que são riscos ocupacionais?

Segundo as Normas Regulamentadoras brasileiras, especialmente a NR-1, riscos ocupacionais são definidos como:

Riscos ocupacionais são uma combinação de fatores, condições, objetos, eventos ou ações presentes no ambiente de trabalho que, em conjunto, aumentam a probabilidade de ocorrência de lesões ou agravos à saúde dos trabalhadores.

Esses riscos podem decorrer da exposição a agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos, de acidentes e também psicossociais relacionados ao trabalho.

A NR-1 estabelece que o gerenciamento de riscos ocupacionais deve incluir a identificação, avaliação, classificação e controle desses riscos, considerando a severidade dos possíveis danos e a probabilidade de ocorrência, para implementar medidas preventivas adequadas.

2. O que são riscos psicossociais?

Os riscos psicossociais são fatores relacionados à organização, gestão e dinâmica do trabalho que podem impactar negativamente a saúde física e mental dos colaboradores. Esses riscos incluem situações como:

  • Metas abusivas e prazos irreais: Situações onde os trabalhadores enfrentam demandas excessivas, com pouco tempo para cumprir as tarefas, levando ao estresse e sobrecarga.
  • Pressão excessiva por Resultados: A pressão constante para atingir metas pode gerar ansiedade e estresse crônico.
  • Assédio Moral e Sexual: Comportamentos hostis ou abusivos no ambiente de trabalho que afetam a saúde mental dos colaboradores.
  • Conflitos Interpessoais: Tensões entre colegas ou superiores que criam um ambiente desgastante.
  • Falta de Suporte Organizacional: Ausência de suporte da liderança ou colegas, deixando os trabalhadores sem recursos para lidar com desafios.
  • Liderança inadequada: Quando os gestores adotam práticas que não conseguem motivar, apoiar ou orientar adequadamente os colaboradores.
  • Insegurança no Emprego: Medo de demissões ou instabilidade no emprego, que pode aumentar o estresse e a ansiedade.
  • Falta de Autonomia: Pouca liberdade para tomar decisões ou controlar o próprio trabalho, o que pode levar à frustração e desmotivação
  • Sobrecarga de trabalho e jornadas prolongadas: Longas horas de trabalho de forma frequente podem causar estresse, fadiga, problemas de sono e doenças cardíacas.

Esses fatores podem levar ao estresse ocupacional, burnout e outros problemas psicofisiológicos, como doenças cardiovasculares, transtornos mentais (ansiedade e depressão) e até alterações comportamentais.

3. Por que os riscos psicossociais são relevantes?

Os riscos psicossociais impactam diretamente o desempenho e a sustentabilidade das organizações. Alguns motivos a seguir ajudam a entender a importância desses riscos:

Impacto na saúde dos trabalhadores

A exposição prolongada a riscos psicossociais pode desencadear estresse crônico, ansiedade, depressão, burnout, insônia e até doenças físicas, como problemas cardiovasculares e musculoesqueléticos.

Aumento do absenteísmo e presenteísmo

Trabalhadores afetados tendem a faltar mais ao trabalho ou comparecer sem condições de desempenhar suas funções de forma eficaz, o que reduz a produtividade e aumenta os custos para a empresa.

Rotatividade e dificuldade de retenção de talentos

Ambientes marcados por riscos psicossociais apresentam maior rotatividade de funcionários, dificultando a retenção de talentos e elevando custos com recrutamento e treinamento.

Queda no desempenho organizacional

Empresas que ignoram esses riscos enfrentam queda no desempenho geral, aumento de acidentes, afastamentos prolongados e até ações trabalhistas, além de prejuízos à imagem e reputação.

Custos financeiros e sociais elevados

Os custos associados aos riscos psicossociais são significativos tanto para as empresas quanto para a sociedade, devido ao aumento de afastamentos, tratamentos médicos e aposentadorias precoces

4. Como identificar os riscos psicossociais?

Para identificar os riscos psicossociais é importante balancear o uso de métodos quantitativos e qualitativos. Os quantitativos ajudarão a entender o tamanho dos riscos, os departamentos onde são mais críticos, entre outros.

Já os métodos qualitativos irão permitir que a empresa entenda as implicações dos riscos, os efeitos no dia a dia dos trabalhadores e no funcionamento da organização como um todo. Portanto, são análises que se complementam.

Abaixo, listamos seis métodos que você pode considerar para utilizar na sua empresa. Quando sugerimos que você considere, é porque o método precisa se encaixar no contexto da sua empresa. Então antes de mais nada, entenda seus recursos, tamanho, subdivisões, dificuldades, e só então, decida quais são os métodos mais aplicáveis. Veja:

  1. Análise do histórico de atestados: Permite a identificação de padrões de saúde que podem estar correlacionados a riscos psicossociais no trabalho. Analisando frequência, duração e motivos dos atestados, a empresa pode detectar tendências como aumento de afastamentos por estresse. Também pode entender setores com riscos prevalentes, permitindo intervenções para um ambiente mais saudável. Pode ser feito de forma manual ou via sistemas como a Closecare.

  2. Pesquisas de clima organizacional: Aplicar questionários padronizados, como o Job Content Questionnaire (JCQ), o Health Safety Executive - Indicator Tool (HSE-IT) e o Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ), que permitem mapear a percepção dos colaboradores sobre fatores de risco, como sobrecarga, assédio, pressão por resultados e falta de apoio.

  3. Entrevistas e feedbacks: Realizar entrevistas individuais ou em grupo e coletar feedbacks regulares ajudam a identificar elementos estressores e situações de conflito não evidentes em pesquisas quantitativas.

  4. Observação direta: Observar o ambiente de trabalho e as interações entre equipes pode revelar sinais de estresse, isolamento, conflitos interpessoais e mudanças de comportamento.

  5. Avaliação psicossocial especializada: Ferramentas como o Inventário Psicossocial avaliam dimensões como exigências emocionais, relações interpessoais e condições de trabalho, proporcionando um diagnóstico detalhado dos riscos presentes.

  6. Monitoramento de indicadores: Acompanhar dados como absenteísmo, rotatividade, produtividade e afastamentos por questões de saúde mental pode indicar a presença de riscos psicossociais relevantes.

5. Como gerenciar os riscos psicossociais?

Uma vez que os riscos estejam bem identificados, é hora de criar bons planos para gerenciá-los de forma eficaz e abrangente.

Isso envolve a elaboração de estratégias detalhadas que considerem as especificidades de cada risco identificado, bem como a implementação de medidas preventivas e corretivas que possam mitigar seus impactos.

É essencial desenvolver um plano de ação que inclua a definição de responsabilidades claras, a alocação de recursos adequados e a criação de um cronograma para a execução das ações propostas.

Além disso, é importante estabelecer mecanismos de monitoramento e avaliação contínua para garantir que as medidas adotadas sejam eficazes e possam ser ajustadas conforme necessário.

A comunicação aberta e o envolvimento de todos os níveis da organização são fundamentais para o sucesso do gerenciamento dos riscos psicossociais. Líderes da empresa precisam estar envolvidos e comprometidos com o processo.

Além disso, a nova redação da NR-1 prevê ainda mais multidisciplinaridade para lidar com esses riscos. Com o envolvimento de diferentes expertises, que podem inclusive ser externas, por meio de fornecedores, será possível promover um ambiente de trabalho mais seguro e saudável para todos os colaboradores.

Boas práticas para gerenciar riscos psicossociais

  • Análise contínua de dados de atestados: os atestados e outros documentos de saúde como declarações de horas contém informações valiosas sobre o estado de saúde atual dos funcionários. Softwares como a Closecare podem te ajudar a automatizar esse processo com alertas em tempo real.

  • Comunicação aberta e canais de escuta ativa: Reconheça os riscos existentes e promova uma comunicação aberta e segura, ouvindo os colaboradores para entender a raiz e o impacto dos pontos identificados.

  • Programas de apoio psicológico: Disponibilize programas de apoio psicológico, como aconselhamento e escuta qualificada, para oferecer suporte imediato aos trabalhadores afetados.

  • Campanhas de conscientização sobre saúde mental: Implemente ações que promovam saúde mental, como campanhas educativas, incentivo à prática de atividades físicas, alimentação saudável e qualidade do sono.

  • Treinamento de lideranças: Capacite gestores para atuarem com empatia e sensibilidade, prevenindo situações de assédio e promovendo um ambiente de apoio e valorização.

  • Políticas claras e códigos de conduta: Estabeleça normas que especifiquem comportamentos aceitáveis e práticas inadequadas, prevenindo conflitos e assédio.

  • Gestão equilibrada da carga de trabalho: Adapte condições de trabalho, distribua tarefas de forma equilibrada e promova a autonomia, sempre buscando eliminar ou minimizar os fatores de risco na fonte.

  • Flexibilização da jornada e trabalho híbrido: Práticas que tendem a melhorar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e, por consequência, tendem a atrair talentos, reduzir absenteísmo e aumentar satisfação, além de mitigar diretamente riscos como estresse e sobrecarga.

  • Avaliação contínua do clima organizacional: É crucial para manter um ambiente de trabalho saudável. Envolve pesquisas regulares para detectar problemas precocemente e ajustar estratégias de gestão.

  • Monitoramento e revisão contínua: Avalie periodicamente a eficácia das medidas implementadas e ajuste as estratégias conforme necessário, integrando o gerenciamento de riscos psicossociais ao Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).

6. Quais são as mudanças mais significativas na NR-1 em relação à gestão de riscos psicossociais?

A mudança mais significativas na NR-1 em relação à gestão de riscos psicossociais consiste na inclusão explícita desses riscos dentro do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).

Isso tornou obrigatória a identificação, avaliação, registro e controle de fatores como estresse ocupacional crônico, síndrome de burnout, assédio moral e sexual, carga mental excessiva, isolamento e hiperconectividade no ambiente de trabalho.

Essa atualização amplia o escopo do PGR, que passa a englobar os riscos psicossociais com o mesmo rigor aplicado aos riscos físicos, químicos e biológicos, exigindo das empresas planos de ação efetivos para prevenção e mitigação desses fatores.

Além disso, a NR-1 reforça a interligação entre o PGR e a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (LDRT), incluindo transtornos mentais como depressão, ansiedade e burnout, o que implica maior responsabilidade das empresas na gestão da saúde mental e emocional dos trabalhadores.

Essas mudanças representam um avanço importante na legislação brasileira, alinhando-a com as melhores práticas internacionais e reconhecendo a saúde mental como componente essencial da segurança e saúde no trabalho.

No entanto, a implementação traz desafios, como a necessidade de adaptação cultural, capacitação, investimento em recursos e integração entre áreas da empresa.

Vale destacar que, embora a autuações relativas à norma tenham sido adiadas para 2026, o ideal é que as empresas se preparem desde já para cumprir essas exigências, que visam reduzir o adoecimento mental, aumentar a produtividade e promover ambientes de trabalho mais equilibrados e sustentáveis.

Fontes:

  1. Portal da Indústria: 8 pontos para entender NR 01 e fatores psicossociais relacionados ao trabalho
  2. Ministério do Trabalho: NR 01 - Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais
  3. Governo do Brasil: Empresas brasileiras terão que avaliar riscos psicossociais a partir de 2025
  4. Agência Europeia de Saúde e Segurança no Trabalho: Riscos psicossociais e saúde mental no trabalho
  5. Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn) - Riscos psicossociais e a saúde dos trabalhadores de saúde: reflexões sobre a Reforma Trabalhista Brasileira
  6. Prevenção de Fatores de Riscos Psicossociais e Promoção da Saúde Mental no Trabalho

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